opinião
Sem a figura de Eduardo Campos, o pacto vai para o divã
Por Fernando Castilho, da coluna JC Negócios, do Jornal do Commercio
Foi assim: quando, em 2007, com a marca
de 4.739 assassinatos o governador Eduardo Campos foi conversar com o
delegado da Polícia Federal, Wilson Damásio, a pergunta dele ao policial
foi uma só: o que o senhor precisa para trabalhar na redução desses
números? Damásio, com aquela cara de ator de filme policial americano,
disse: um programa de computador para contar os mortos. A Polícia,
governador, não pode ficar brigando com um blog de meninos do Jornal do
Commercio, que tem mais eficiência que o IML.
Damásio se referia à iniciativa de um grupo de jornalistas (Eduardo
Machado, João Valadares, Diogo Menezes e Carlos Eduardo) que entenderam
de contar defunto para dizer, de fato, o quanto estavam matando de gente
em Pernambuco, o PE Body Count.
A partir daí a conversa fluiu para um projeto mais sério e foi
juntando mais gente. Acabou com o projeto e o conceito de gestão
policial do Pacto Pela Vida. Vieram Luiz Ratton, da UFPE, o pessoal da
TGI, de Francisco Cunha, e uma penca de instituições. Ninguém falou em
unificar a polícia (tema que ainda é complicado no Brasil inteiro), mas
na prática, Pernambuco acabou juntando melhor que noutros estados as
ações das duas polícias, que culturalmente tem visões e estrutura
diferentes. Não era, e nunca foi, uma convivência pacífica, mas o pulso
firme e até mesmo a opinião irredutível de Eduardo Campos viabilizou uma
ação conjunta.
Ah, o Governo do Estado tinha caixa. E além de gente de fora da SDS
com experiência em gestão, promoção e gratificação, o Pacto virou uma
experiência internacionalmente reconhecida. É bem verdade que até hoje a
Secretaria de Planejamento nunca conseguiu fazer a conta de quanto o
Pacto custou financeiramente. Mas, algumas coisas interessantes foram
implantadas.
Com a ideia de dividir o estado em oito áreas sob comando de um Major
PM, um delegado e um executivo de contas para tomar conta do dinheiro
da operação. Não era uma convivência fácil. Mas, e daí?, dizia Eduardo
Campos. Não quero que vocês se afinem e virem cunhados, genros ou
sogros. Quero vocês para botar a tropa na rua, prender bandido e saber o
que estão fazendo.
Sim, tinha o suporte de todo o governo com as outras secretarias que
geraram o chamado Governo presente. Não bastava prender ou chegar
batendo na comunidade. Tinha que dar uma esperança à meninada da
periferia e melhorar a escola e vai por aí.
Mas, o Pacto Pela Vida tinha um “dono”, o governador. Sim, tinha
ainda um “gestor operacional”. Economista, acostumado a mexer em
planilha Excel e fazer conta, Eduardo Campo ia no detalhe depois que
Geraldo Julio dava o suporte.
Todo mundo que trabalha com o atual prefeito do Recife sabe que ele é
muito chato em termos de números e planilha. Imagina Geraldo com todo
respaldo de Eduardo Campos que era um “cricri” em termos de metas.
Tem uma coisa que pouca gente sabe: No aperto geral, Wilson Damásio
virou uma espécie de paizão da tropa devido ao sufoco que Eduardo Campos
e Geraldo Julio davam nas reuniões do Pacto pela Vida. Na verdade,
Damásio era quem fazia as metas com o comandante da PM e o Chefe de
Polícia. Mas, para a tropa ele era o cara quem, do pescoço para baixo,
podiam reclamar.
O problema do Pacto pela Vida começou quando Eduardo Campos deixou o
governo. Geraldo Julio tinha virado prefeito do Recife com aquela
conversa de monitoramento e Wilson Damásio, também não estava mais na
equipe depois de uma desastrada entrevista ao JC.
Mudou o comando e o estilo e a tropa não sentiu firmeza na continuação do projeto. O estilo de João Lyra Neto e a falta de verba começaram a fazer a tropa relaxar a pressão. Aí veio a greve de maio de 2014. Para complicar, a ideia de voltar para a delegacia e ao Batalhão sem nada de reajuste fez a tropa relaxar geral.
Mudou o comando e o estilo e a tropa não sentiu firmeza na continuação do projeto. O estilo de João Lyra Neto e a falta de verba começaram a fazer a tropa relaxar a pressão. Aí veio a greve de maio de 2014. Para complicar, a ideia de voltar para a delegacia e ao Batalhão sem nada de reajuste fez a tropa relaxar geral.
Por mais duro que isso possa parecer, a verdade é que as polícias
(Civil e Militar) acham que perderam prestígio. Isso abriu espaço para,
na PM, e na SDS os grupos começassem formar para se defender. Na
verdade, eles sempre existiram, mas com a saida de Eduardo Campos as
reivindicações e articulações para proteger os diversos grupos ficaram
mais firmes.
O tempo passou e a crise financeira foi se agravando. Nem João Lyra
Neto e nem Paulo Câmara tem o estilo do “murro na mesa” e nem a
articulação política de Eduardo Campos. E nem o secretário de Defesa
Social, Alessando Carvalho se sente com a força que Wilson Damásio tinha
nos anos do Pacto pela Vida com Eduardo Campos mandando o secretário da
Fazenda, Paulo Câmara, pagar a conta.
Isso explica porque é que o Pacto pela Vida hoje está no divã. Pouca
gente lembra, mas a Polícia Civil está em Operação Padrão desde janeiro.
Na prática, quer dizer o seguinte: quando uma guarnição da PM chega
numa delegacia com um preso, o delegado e o escrivão seguem o que
recomenda o manual. Isso leva tempo que é gasto deliberadamente. Na
prática, a guarnição fica horas na delegacia esperando. Resultado: sai
da rua e perde capacidade de ação militar no cenário do crime. Imagina
isso em todo estado e na RMR?
Os delegados estão em campanha salarial e ainda com uma briga para
travar o concurso que a SDS está fazendo, conseguiram parar o processo
como uma demonstração de força. Mas, no fundo, a SDS tem uma quebra de
braço com o governo. Lembra da promessa de uma conversa no começo do
mandato do novo governador? Até agora, nada.
Tem mais: uma coisa era Geraldo Julio, forte, até chato com os
números, mas prestigiado com Eduardo Campos dando um “aperto de torar”
na SDS. Outra coisa é Danilo Cabral. O estilo é diferente. E aí fica na
conta das pessoas de baixo que hoje só contam cadáver e estatística
ruim.
E como parece ser uma tendência no governo Paulo Câmara alguém já sugeriu uma consultoria. Consultoria ajuda, mas sem um foco é como chamar um cara famoso para pegar no teu braço e dizer as horas. E ainda pagar caro por isso.
E como parece ser uma tendência no governo Paulo Câmara alguém já sugeriu uma consultoria. Consultoria ajuda, mas sem um foco é como chamar um cara famoso para pegar no teu braço e dizer as horas. E ainda pagar caro por isso.
Sem verba e sem que o governador comece a assumir o projeto disposto a
gastar mais, o secretário de Defesa Social, Alessando Carvalho e o
secretário de Planejamento Danilo Cabral vão ficar nesse reme-reme de um
número aqui e outro ali.
O Pacto pela Vida deu certo porque o governador cobrava olhando no
olhos. Aos subordinados da SDS era uma fala direta. E, é claro, mandando
gastar aonde era preciso. Se isso não acontecer pode ter um pacote de
consultor que a tropa não vai reagir.
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